A Melhor Mãe do Mundo é o novo longa de Anna Muylaert com Shirley Cruz e Seu Jorge no elenco
Por: Aline Miranda
A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) foi criada com o objetivo de estabelecer mecanismos para proteger a mulher em situação de violência e punir o agressor, criando medidas protetivas de urgência. Quase vinte anos após entrar em vigor, a violência contra a mulher ainda é uma realidade no Brasil.
De acordo com a pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, de 2025, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 21, 4 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de violência nos últimos 12 meses, maior número desde o início da pesquisa, em 2017. Outro dado chocante é que em 91,8% dos casos ocorreram na presença de terceiros, ou seja, outras pessoas como amigos, conhecidos ou parentes presenciaram as agressões.
É em meio a esse cenário que “A Melhor Mãe do Mundo” estreia nos cinemas brasileiros. A trama acompanha Gal (Shirley Cruz), uma mulher que atua como catadora de materiais recicláveis e busca reconstruir sua vida após fugir de um relacionamento abusivo, levando consigo seus filhos, Rihanna (Rihanna Barbosa) e Benin (Benin Ayo) pelas ruas de São Paulo. Enfrentando os perigos da falta de moradia, ela convence as crianças de que estão em uma aventura.
A temática da violência doméstica é abordada de maneira emocionante por Anna Muylaert. A diretora e roteirista já é conhecida por abordar questões sociais e retratar o papel materno nas telas como em “Mãe Só Há Uma”; “E Além de Tudo me Deixou Mudo o Violão”; “Que Horas Ela Volta?” e “Durval Discos”, mas dessa vez, propõe reflexões ainda mais profundas ao apresentar uma mulher que enfrenta dificuldades de diferentes níveis ao romper com o ciclo de violência doméstica que sofria.
Uma das jogadas brilhantes do filme é como outros temas são inseridos no contexto do enfrentamento à violência doméstica: a realidade dos catadores de materiais recicláveis, a pobreza menstrual, a infância nas ruas, o assédio sexual e a questão das ocupações como alternativa de moradia.
Retratar temas tão delicados como esses só foi possível graças a interpretação brilhante de Shirley Cruz. A atriz vive uma Gal cheia de camadas, de palavras e de silêncios que tocam o público a cada cena. A atuação potente da atriz já lhe rendeu alguns prêmios, como o de Melhor Atriz no Cine PE e Melhor Interpretação em Longa-metragem Ibero-americano de Ficção no Festival Internacional de Cinema de Guadalajara.
Ao lado de Shirley, as crianças também dão um show à parte. Rihanna Barbosa e Benin Ayo estão tão à vontade em cena que parecem formar uma verdadeira família. Eles se divertem, brincam e duvido que não vão conquistar todos que os assistem.
Seu Jorge no papel de Leandro, o marido abusivo que “é bom quando não bebe”, quebra com o esperado e não apresenta nenhuma relação com a música, mas traz um personagem violento e até assustador, com uma interpretação intensa e com o peso necessário para a temática.
O elenco conta ainda com outros nomes como Rubens Santos, Rejane Faria, Lourenço Mutarelli, Kauezinho Rodrigues, João Fellipe Felix, Katiuscia Canoro, Ayomi Domenica e o rapper Dexter.
“A Melhor Mãe do Mundo” é um filme com um tema forte e cruel, mas tratado com uma sensibilidade que promete conscientizar e encorajar aquelas que enfrentam realidades semelhantes.
NOTA: 4
Confira o Trailer:
Ficha Técnica:
Nome Original: A Melhor Mãe Do Mundo
Direção: Anna Muylaert
Duração: 106 min
Gênero: Drama
Distribuidor: Galeria Distribuidora
País de Origem: Brasil